Por Luiz Otávio da Silva – Pesquisador / pós-graduando em História
Recentemente, o pesquisador de Conselheiro Lafaiete, Luiz Otávio da Silva, identificou em uma fazenda história na cidade de Pirenópolis, interior de Goiás, uma importante peça de valor histórico do período Imperial do Brasil. Trata-se de um autêntico sino imperial e que pertence a Fazenda Babilônia daquela cidade.


A fazenda, de propriedade da senhora Telma Lopes de Machado, é uma irável construção do século XVIII que hoje tem suas portas abertas ao turismo, possui uma bela, rica e decorada capela de Nossa Senhora da Conceição. Construção típica da época, a fazenda foi considerada em seu tempo um dos maiores engenhos de açúcar do Brasil, além de produzir em grandes quantidades um algodão considerado o melhor do mundo e que era todo destinado à exportação para a Inglaterra.

Segundo Telma Lopes, a Fazenda Babilônia foi tombada pelo IPHAN (Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 1965, a pedido de Lúcio Costa, arquiteto e urbanista autor do projeto do Plano Piloto da Cidade de Brasília. Lúcio Costa frequentava a fazenda quando da construção da capital do Brasil. Ainda de acordo com Telma, a Fazenda Babilônia foi comprada pelo bisavô dela em 1851 e que o sino teria entrado lá em 1864 mas não há informação sobre a origem dele. O que se sabe, é que naquele tempo, toda aquela região era de jurisdição da Arquidiocese de Mariana. Telma Lopes informou que o bisavô dela que comprou a fazenda era padre. Em 2008 a capela foi restaurada por uma renomada empresa de Belo Horizonte.

Em conversas com o pesquisador, Telma disse estar surpresa com as informações e que não tinha a menor ideia de quão importante e valioso historicamente é o sino imperial da Fazenda babilônia. Ela disse ainda que cuida da propriedade com muito zelo para que aquele patrimônio seja reconhecido, valorizado e que outras gerações ainda possam usufruir dele.
Os sinos imperiais
Luiz Otávio explica que esses sinos, foram fundidos pela extinta firma F.G.C. (Florindo Gonçalves Coelho, português “estabelecido no Rio de Janeiro a partir de 1820”), fundição que “usava o título de Fundição Imperial”. O que diferencia e torna os sinos imperiais únicos e de extrema importância histórica e cultural é a sua condição singular adquirida na premiação da Primeira Exposição Nacional da Indústria realizada no ano de 1861, na capital do Império do Brasil. O pesquisador ressalta que de acordo com Monica de Souza Nunes Martins, Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, essa exposição foi “apoiada pelo Governo Imperial e organizada pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e pelo Imperial Instituto Fluminense de Agricultura. O evento visava preparar a participação do Brasil na Exposição Universal em Londres, a se realizar em 1862”.

A partir da conquista desse prêmio em 1861, vitória que só possível em razão da excelente qualidade sonora dos sinos, a Fundição Imperial ou a fundir seus sinos com uma identidade própria, além de outros elementos decorativos já existentes nas peças. Os sinos daquela fundição aram também a ser fundidos com o Brasão Imperial e com a Medalha Premial (ou Medalha de Premiação).
Luiz Otávio afirmou que em Conselheiro Lafaiete também existe um sino imperial e ele pertence à Capela de São Sebastião no bairro Amaro Ribeiro, subordinada à Paróquia do Bom Pastor. Em 2016, quando era vice-presidente (e estava como presidente interino) do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural, junto com outros servidores da Secretaria de Cultura, Luiz Otávio realizou o Inventário de Proteção para fins de Tombamento. Quando da realização do dossiê para proteção do sino, não foi possível apresentar uma pesquisa completa sobre a peça, o que somente aconteceu em 2021, quando alertou a quem de direito sobre a importância histórica do sino. A constatação da importância daquele sino se deu somente após intensa e criteriosa pesquisa quando ele contou com ajuda de um renomado o historiador André D’angelo, pesquisador que realizou o inventário de Campanologia de São João del-Rei e idealizador do Museu do Sino da cidade de São João Del-Rei. Para D’angelo, o sino da capela no bairro Amaro Ribeiro é uma peça autêntica daquela fundição do Rio de Janeiro. Isso se comprova através de elemento decorativos do sino, como a Medalha Premial, que possui dois lados: um lado descritivo/alusivo à premiação em 1861 e um lado contendo o rosto do Imperador Dom Pedro II.
Luiz Otávio informou que esteve recentemente com padre Edir Martins, pároco da Paróquia do Bom Pastor. O padre ressaltou a preocupação que tem não somente com o sino, mas com todo o patrimônio da capela e falou de ações que serão realizadas na revitalização e valorização do entorno, da imaginária e todo acervo que aquela igreja possui. “O padre Edir foi bastante receptivo”, disse Luiz Otávio.

O pesquisador informou que tem conhecimento de outros sinos imperais no Brasil, como nas cidades de São João Del-Rei, Itaúna, Curitiba e no estado do Rio de Janeiro. Luiz Otávio está mantendo contato com outros pesquisadores a fim de ampliar e validar estudos que estão em andamento. Segundo Luiz Otávio, outros sinos imperiais devem existir pelo interior do Brasil, mas, por desconhecimento de proprietários e pela falta de profissionais capacitados, em alguns lugares para identificar esses objetos, eles acabam desprotegidos e acabam indo parar em lojas de antiguidades e em sites de leilões. O pesquisador alerta para o fato de que, sendo Minas Gerais um estado grande e por ter muitas igrejas, capelas (inclusive em fazendas) é possível que outros sinos iguais a esses estejam por aí sem receber a devida importância histórica que cada um deles possui.

O pesquisador ressalta ainda que é de extrema seriedade que proprietários de sinos antigos e autoridades responsáveis pela proteção do nosso rico, vasto e incomparável patrimônio histórico e cultural tenham um olhar mais atento, que se mobilizem e tenham ações voltadas para a guarda e preservação desses objetos. “Não podemos, em vez de ouvir as badaladas de nossos Sinos Imperais (e de todos possuem valor histórico) ouvir, vergonhosamente, as batidas dos martelos de madeira de leiloeiros”, enfatiza Luiz Otávio.